DBO Agrotecnologia – Recursos Humanos
Jeffrey Abrahams*
Março/abril 2011 – Com os espaços das livrarias virando lojas de celulares, as bibliotecas caseiras cedem espaço para a tela plana do LCD, e mesmo assim alguns ainda acham que o mundo não mudou. Pior ainda quando percebem que o fio do bigode virou implante.
Ouvimos muito falar da geração Y. Que sejam os dito cujos boomers, ou X, Y e atuais Zes, parece sumário descritivo. Nada mais é do que a descrição das gerações num contexto da evolução e seus impactos sobre o comportamento humano frente aos desafios. Antes, sobrava cultura e faltava dinheiro. Hoje, falta cultura e sobra dinheiro. As empresas queriam profissionais competentes, leais e de longa dedicação. Hoje querem profissionais transgênicos, infalíveis e descartáveis. Antes as empresas escolhiam. Hoje os profissionais escolhem. Entretanto, o mundo não cairá em barranco. Mas faltam líderes e talentos.
Nos dois lados existe dissonância cognitiva. Antes o conhecimento do inglês era luxo. Hoje é ferramenta diária. Antes as reuniões eram na casa do cliente. Hoje fazem no Sítio do Pica-Pau Amarelo do Linkedln virtual. A bola na rede de outrora virou rede social.
Os mais antigos se revoltam contra a nova geração e os jovens não aceitam as formas impositivas dos sêniores. Os sêniores não se conformam com os erros de português e os jovens não têm paciência com os antigos e se preocupam só com a velocidade. Antes havia o network em eventos. Hoje os eventos são via Skype ou redes sociais. As ferramentas de comunicação mudaram. É tudo mais veloz e a mobilização é potencializada em tempo real. Antes as pessoas buscavam as reuniões em família, nos restaurantes, e hoje, pela falta de tempo, buscam as redes sociais. Não se tocam mais, há menos abraços, não há afetividade.
Independentemente das gerações, buscam-se as mesmas coisas em valores, embalados de outra forma e em outra exposição da mídia ou instrumento de comunicação. A capacidade cognitiva continua um gene crítico no portfolio humano. A boacomunicação na língua materna é imperativa. A concatenação na proposição das ideias é vital no mundo corporativo. Boa educação, cultura geral e postura continuam, através dos tempos, quesitos fundamentais.
Desde os anos 1980 o Brasil e vários países do mundo se deparam com a necessidade de reestruturação da sua força de trabalho produtiva. De um modelo de força de trabalho baseado na técnica, predominante em meados do século 20, convive-se com a exigência de funções profissionais com alta capacidade de mudança.
“Antes, sobrava cultura e faltava dinheiro. Hoje, falta cultura e sobra dinheiro.”
Resultado: empresas buscam profissionais que possam dar conta desse novo cenário de alta competitividade e incertezas, cobrança por inovação. E desde então vivemos várias fases, de transformação e modismos. No entanto, é frequente encontrarmos descompasso entre o que uma organização enxerga como modelo ideal de talento (por vezes superestimam exigências de habilidades) querendo de fato um humano transgênico ao que de fato tem a oferecer ao profissional.
Procuram-se profissionais voltados para a produção de EBIDTA (lucros antes dos impostos, na sigla eminglês). Mas encontramos profissionais alheios ao tempo atual, que demandam inteligências que os retiram de uma zona de conforto no campo cognitivo-comportamental, e que se mantêm à margem de corporações, mesmo sendo talentos raros.
Desajustes sempre vão existir. Não podemos ignorar que a competição aguda nos mercados internacionais, as dificuldades de se manter ou aumentar lucros, com o objetivo de atender os interesses dos acionistas, exige, de fato, por parte das organizações, respostas muito rápidas.
Para sobreviver à concorrência mundial, as empresas agem competitivamente, com alto padrão de qualidade, com orientação para o cliente, investem em inovação acelerada e mantém preços acessíveis.
Diante dessas exigências as empresas impõem um “pacote” de competências muitas vezes difícil de ser encontrado disponível proporcionalmente na média dos profissionais.
A sofisticação do mercado de capitais, o intercâmbio de produtos entre países, a maior disputa por inovação tecnológica, acentuou a busca do profissional em constante aprimoramento, multifuncional e especialista ao mesmo tempo, ágil ao lidar com frustrações corriqueiras, preciso no manejo de relacionamentos. O relacionamento continua um quesito atual.
Essa constante mudança também traz processos de produção dinâmicos, por meio de mecanismos de out e insourcing, descentralização da organização da empresa em unidades multifuncionais; cooperação transversal (em projetos temporários ou permanentes) entre empregados de áreas e qualificações / ocupações diferentes; organização interna com menos hierarquias. No Brasil o modelo de educação ainda está na batalha teórica para aplicar práticas de ensino nas quais sejam incluídas ou não as competências básicas, esse dia a dia é tenso entre recrutadores e gestores. Cabe discutirmos os novos paradigmas das competências para o futuro.
*Jeffrey Abrahams é engenheiro agrônomo e fundador da Abrahams Executive Search e diretor da Agilium Wordwide para as Américas.